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Javier García-Solera: reflexões sobre a cidade

BNP (Neuquén, Argentina). Projeto de Javier García-Solera, Guillermo Posik e Pablo Reynoso. Foto: Divulgação

O ambiente em que vivemos condiciona nosso bem-estar. A formação, desenvolvimento, sociabilidade e afetividade dos indivíduos é afetada pelas condições do espaço em que vivem. Nesse sentido, o arquiteto e urbanista tem a função social de pensar e projetar os cenários onde as pessoas constroem suas vidas, cuidando de todos os aspectos que os acercam. É desta forma que o arquiteto e urbanista espanhol Javier García-Solera entende a profissão. “A arquitetura é uma infraestrutura para que a vida aconteça”, afirma.

Para o profissional, a cidade é uma grande representação daquilo que é comum a todos. As ruas, parques, praças e estruturas urbanas pertencem indiscutivelmente a toda a população, ao menos na teoria. A forma como o arquiteto e urbanista interfere na cidade deve contribuir para que este pressuposto saia do campo teórico, buscando projetar espaços que sejam, de fato, para todos e que não altere sua essência. “Nós arquitetos, quando interferimos na cidade, estamos apostando em um modelo de convivência, em um modelo de relações entre as pessoas, favorecendo um maior ou menor fortalecimento do comum”, ressalta o arquiteto espanhol.

Para García-Solera, em todos os trabalhos do arquiteto e urbanista, seja para entes públicos ou privados, a preocupação com o meio urbano como um todo e a consciência do impacto generalizado de seus projetos devem estar sempre presentes. “O primeiro cliente da vida de todo arquiteto é a cidade”, destaca. E completa: “A cidade são as coisas que a configuram. Para um arquiteto, sobretudo, a cidade somos nós, somos todos”. O arquiteto espanhol defende um pensamento de coletividade na atuação profissional. Segundo ele, a arquitetura tem o potencial de provocar transformações em benefício de todos, ou, ao contrário, privilegiar algumas pessoas em detrimento de outras.

Javier García-Solera enxerga, no conceito de “casa”, uma possibilidade de se pensar uma cidade melhor para todos. Ele destaca a definição do pensador e arquiteto catalão Josep Quetglas, que conceitua casa como tudo aquilo que nos conforta, que nos faz sentir bem, seguros e respeitados. A partir deste entendimento, o arquiteto espanhol expande a reflexão. “Casa é a casa física, é uma boa amizade, uma boa sociedade, uma cidade amável”, afirma.

Passagem pelo Brasil

O arquiteto e urbanista espanhol participou de um ciclo de palestras no Centro Universitário Univates, em Lajeado, e na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. Nos dias 5 e 6 de junho, o evento ocorreu no auditório da Univates, apresentando uma obra quase completa e a identidade entre a construção intelectual e física do projeto. Já nos dias 7, 8 e 9 de junho, as palestras foram no auditório da Faculdade de Arquitetura da UFRGS, onde Javier García-Solera apresentou projetos com três focos: habitação coletiva, inserção no meio urbano e infraestrutura.

Para García-Solera, os arquitetos e urbanistas de países em desenvolvimento, como o Brasil, têm a oportunidade de questionar muito mais uma série de normas – técnicas, de construção e atuação profissional – que não necessariamente correspondem ao cenário ideal para que a arquitetura se desenvolva em todo seu potencial. “Na Europa, por exemplo, nesse momento estamos cheios de normas já consolidadas, muito difíceis de mudar, embora desde a universidade se demonstre, muitas vezes, que há interesse em sugerir mudanças. Em minhas aulas na universidade, sempre trabalho com a seguinte lógica: não existem normas, as normas quem pensam são vocês, arquitetos, com o conhecimento que possuem. E percebi que apareciam projetos extraordinários que não se podiam construir com as normas existentes”, relata.

Javier García-Solera na UFRGS. Foto: CAU/RS

Sobre o arquiteto

Javier García-Solera nasceu em 1958 em Alicante, na Espanha, e formou-se arquiteto e urbanista pela Escola Técnica Superior de Arquitetura de Madrid. Hoje, é um dos arquitetos mais reconhecidos da Espanha, com um trabalho marcado pela economia de meios, contenção formal, precisão, rigor e alto conhecimento de técnicas construtivas. Atualmente, é professor de Projetos da Escola Técnica Superior de Arquitetura de Alicante, e já foi professor convidado em várias outras instituições de ensino superior. García-Solera já recebeu prêmios como o FAD, Hispalyt, Saloni e Bienais Ibero-Americanas.

Foto: CAU/RS

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