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Patrimônio histórico: construção e valorização da identidade urbana

Igreja das Dores de Porto Alegre. Foto: Joana Berwanger

“A história da cidade se desenvolve de acordo com o território e as pessoas que o habitam, ou seja, a forma como se ocupa o espaço contribui para a criação de uma identidade única. No momento que reconhecemos que os edifícios são testemunhas do tempo, aprendemos a valorizá-los e somos estimulados a preservá-los, pois vemos nossa própria história refletida”. É assim que o arquiteto e urbanista Lucas Volpatto, responsável pela nova obra de restauração da Igreja das Dores de Porto Alegre, abre esta conversa.

A igreja é cartão-postal e referência arquitetônica da capital gaúcha. Em entrevista para o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Sul (CAU/RS), ele mostra que a arquitetura, em todos os tempos, é a grande responsável pela construção da identidade urbana.

Se a história permite analogias, uma delas é de que a construção das cidades é como uma colcha de retalhos. Um exemplar ímpar da forma como nos relacionamos com o ambiente interno e externo das edificações. Cada cidade é única, pois desenvolve sua própria costura. O grande desafio é a equação entre preservação do patrimônio e progresso da cidade. “Algumas edificações de interesse cultural são propriedade privada. É necessário um convencimento de que o imóvel não está ‘condenado’. Existem possibilidades e benefícios para quem os possui”, explica o arquiteto e urbanista.

Ele comenta também sobre a importância da conservação, responsável por reduzir os custos de qualquer obra de restauro. “Costumo dizer que trabalhar com patrimônio é como catequizar jovens rebeldes”, brinca. “É preciso convencer com o que temos de melhor. Promover ações de educação patrimonial e estimular a população a se identificar com o espaço construído”.

Reconhecer e se apropriar. Fatores materiais e afetivos estão envolvidos na costura da grande colcha de retalhos da cidade. Entendê-la como um todo, respeitando suas diferenças, é um exercício importante para despertar o sentimento de pertencimento ao espaço habitado. “É um trabalho político, técnico e social”, avalia.

Igreja das Dores

Para Volpatto, o arquiteto e urbanista deve ser um bom gestor de pessoas. “É preciso gerenciar e respeitar o espaço de cada profissional que está envolvido no processo, seja uma restauração ou um inventário, por exemplo. Engenheiros, historiadores, arqueólogos e jornalistas são um exemplo dessa multidisciplinaridade”. A experiência fala por si. Envolvido com a nova obra de restauração da Igreja das Dores de Porto Alegre desde dezembro do ano passado, Volpatto coordena e trabalha em conjunto com profissionais de diversas áreas.

A igreja situada na Rua dos Andradas é famosa pela escadaria de 63 degraus e foi o primeiro patrimônio tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan) em Porto Alegre, em 1938. A restauração está prevista para ficar pronta até o final deste ano. A ideia é construir no local o primeiro museu de arte sacra da capital gaúcha e abrir as duas torres de estilo barroco português, com elementos neoclássicos, para visitação.

Se ainda restou alguma dúvida sobre por que valorizar o patrimônio é importante para a cidade, Volpatto responde: “O patrimônio é capaz de gerar novos lugares e nichos de economia criativa. Uma cidade que valoriza seu patrimônio promove o turismo, movimenta a economia e agrega pessoas”.

Torres da igreja devem ser abertas para visitação. Foto: Carlos Macedo
Praça da Harmonia vista do alto da Igreja das Dores no início do século XX. Foto: Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul
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Uma resposta

  1. excelente matéria… sem um patrionio histórico devidamente mantido, um povo perde sua identidade. a arquitetura sempre foi o mais “visível” dentre os demais.

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