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Exclusiva: Casacadabra, arquitetura para crianças

Cidades mais justas e humanas dependem das nossas atuais contribuições em busca de qualidade de vida e bem-estar. Pensando nisso, as arquitetas e urbanistas Simone Sayegh e Bianca Antunes, de São Paulo, desenvolveram o Casacadabra, livro de arquitetura para crianças. Segundo as autoras, as crianças de hoje – os adultos de amanhã – precisam desenvolver a sensação de pertencimento, que passa pelo conhecimento de todos os aspectos que envolvem a constituição do espaço que habitam e convivem: casa, escola, praças, parques, cidade.

Em entrevista exclusiva para o Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/RS), Bianca Antunes apresenta as principais contribuições do Casacadabra, que traz ilustrações de dez casas ao redor do mundo, projetadas por distintos arquitetos, estimulando a criança a pensar e desenvolver maneiras diferentes de compreender e questionar o mundo à sua volta. Simone Sayegh ministrará um dos painéis do Seminário “Modo de Ser” promovido pela Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (AsBEA/RS) nesta quinta-feira (1º/12) em Porto Alegre.

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Bianca Antunes e Simone Sayegh. Foto: Serjão Carvalho / Divulgação

O futuro começa hoje

Arquitetura e urbanismo têm sido ensinados apenas nos bancos das universidades. Isso afasta tanto o profissional da sociedade, quanto a sociedade de temas que importam a todos em seu dia a dia. Ainda temos muito uma política de construção das cidades do tipo top-down: aceitamos o que é decidido lá em cima. Ao entender alguns aspectos da cidade desde cedo, a sensação de pertencimento cresce: pensamos na cidade não como ruas construídas para nos locomover, mas como o lugar que habitamos e devemos cuidar. É clichê, mas é fato: as crianças de hoje vão construir as cidades de amanhã, seja como arquitetos, urbanistas e engenheiros, seja como parte de uma sociedade que pode pedir espaços mais humanos para habitar.

A escolha das casas ao redor do mundo

Partimos de dois objetivos: que fossem lúdicas e tivessem diferentes elementos de arquitetura para serem passados ao leitor, sempre pensando em projetos de referência na arquitetura mundial. A primeira seleção teve mais de 20 nomes. Filtramos buscando equilíbrio e diversidade entre gerações de arquitetos e lugares do planeta com várias situações de morar: habitação social, conjunto sustentável, casa em cima da cachoeira.

arquitetos

Qual a leitura de cidade que nos falta?

Aquela que a criança não vê como um mero caminho entre sua casa e sua escola, mas como um ator que lhe convida a subir ao palco. Arriscamos dizer que falta pensar em um urbanismo mais lúdico e acolhedor como um todo. O urbanismo pensado para as pessoas, em que nos integramos a ele, nos divertimos com ele, em que voltaremos a sentir a cidade em nossa escala humana.

Em Copenhagen, capital da Dinamarca, construíram o Superkilen, do escritório BIG. É uma praça de 1 km de extensão cheia de cores, desenhos no piso, mobiliário urbano para descanso e brincadeiras, ciclovias. Uma criança pira ali, mas os adultos também. Apesar da grande extensão, aquele espaço tem a escala do pedestre, foi pensado para as pessoas, há um sentimento maior de pertencimento ao espaço que você desfruta. Em Medellín, na Colômbia, há uma praça que te convida a tirar o sapato: chama-se praça dos pés descalços. Tirar o sapato no espaço urbano tem um significado muito forte de confiança com a cidade.

Cidades para pessoas

Não precisamos ir longe, muito menos fazer grandes construções: uma avenida aberta aos domingos é lúdica, cheia de artistas, bicicletas, cachorros, crianças com mil brinquedos, piquenique e bambolê. As crianças pertencem ao espaço e o espaço pertence a elas. Quando pensaríamos que uma avenida construída para circulação de carros fosse acolhedora às crianças?

Passamos pelo menos 70 anos construindo cidades para os carros e esquecemos de que quem dá vida às cidades são as pessoas. Por que é mais fácil pegar o carro para ir à padaria que fica a duas quadras de casa? Porque os caminhos para o carro são mais fáceis. A calçada é quebrada, é estreita, é feia, os muros que separam a calçada das casas não são convidativos, você não se diverte no caminho. As pessoas precisam começar a ocupar as ruas para se divertir, para ir ao trabalho, e é preciso construir um urbanismo que faça esse convite ao pertencimento.

capa

Aceitação do público

O frio na barriga quando lançamos o projeto de financiamento coletivo no Catarse em abril foi enorme. Era um projeto grande, audacioso e caro, pelas características de um livro de 80 páginas inteiramente ilustrado e com conteúdo especializado. Mas na primeira semana alcançamos 25% da meta e houve uma repercussão muito boa na mídia. Sentimos que as pessoas se apropriaram do projeto e viram no Casacadabra algo que sentiam falta. Depois, com o lançamento, foi outra surpresa, tanto na recepção dos adultos quanto das crianças. Recebemos vários retornos de pais dizendo o quanto os filhos não paravam de ler o livro e fotos deles fazendo as atividades propostas. É emocionante ver que um projeto que começou de um sonho está conquistando tantas pessoas.

Próximos projetos

Para fazer com que o Casacadabra fosse possível, montamos uma editora independente, a Pistache Editorial. O Casacadabra é o primeiro livro da editora e tem muitas possibilidades de ampliação. Uma delas é um próximo volume sobre espaços públicos. Também temos projetos de atividades educativas para crianças, tendo o Casacadabra como ponto de partida.

MAIS SOBRE: livro

2 respostas

  1. Adorei esse projeto ,penso que esse olhar mais comum para a estética das coisas em geral e também da arquitetura deve mesmos ser cultural e apurado desde a infância. Tenho dois netinhos, sempre procuro passar a eles esse aprendizado, acho que dessa forma preparamos melhor essa geração que vem por ai , e quem sabe para, para contribuirem para um muito mais bonito em todos os aspectos .
    Parabéns colegas Bianca e Simone !!!!
    Com certeza vou adquirir o livro CASA CADABRA!!!

  2. Parabéns Bianca e Simone!
    Muito lindo o projeto de voces! Fiquei encantada… sentimento tão necessário para se ter um novo olhar para as nossas cidades… sucesso gurias!

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